RESUMO
A África conhecida por todos
hoje é resultado de mudanças ocorridas entre os séculos VII e XI. Esses séculos
são considerados formadores por que as transformações ocorridas durante esse
período afetaram a África em seus aspectos sociais, políticos, econômicos e
culturais. Esse artigo objetiva explanar de forma clara quais foram essas
transformações, e de que forma elas influenciaram na formação da África.
Palavras-chave:
História. África. Transformações.
1
INTRODUÇÃO
Durante muito tempo a
história da África foi negligenciada pelo Ocidente. Acreditava-se que não havia
obras suficientes para a abordagem da história desse continente. A ausência de
fonte histórica escrita não impediu a construção da história da África, a
oralidade que é a tradição viva da África, muito ajudou na elaboração de
livros. A história transmitida pelos tradicionalistas através da
oralidade, por muito tempo foi desprezada pelos historiadores, pelo simples fato de não ser de caráter documentado. Porém, com o tempo assumiu-se que os documentos históricos escritos nada mais eram do que um depoimento humano. Então, o que valia não era a forma – escrita ou oral- do depoimento, e sim aquele que está depondo. Dessa forma, muitas informações antes negligenciadas, foram sendo colhidas e utilizadas como fonte na construção da História da África.
oralidade, por muito tempo foi desprezada pelos historiadores, pelo simples fato de não ser de caráter documentado. Porém, com o tempo assumiu-se que os documentos históricos escritos nada mais eram do que um depoimento humano. Então, o que valia não era a forma – escrita ou oral- do depoimento, e sim aquele que está depondo. Dessa forma, muitas informações antes negligenciadas, foram sendo colhidas e utilizadas como fonte na construção da História da África.
Tendo-se conhecimento da riquíssima
cultura africana, e do período formador dela, desenvolveu-se a vontade de uma
pesquisa mais aprofundada sobre os entes construtivos dessa história,
objetivando conhecer melhor essa história que durante tanto tempo manteu-se
distante da cultura ocidental.
O
referencial teórico para a produção textual do artigo baseia-se em obras de
autores como Devisse, Jan Vansina, Hampaté Bâ e também em artigos retirados da
internet.
2.
AS MUDANÇAS OCORRIDAS NAS DIFERENTES PARTES DA ÁFRICA
Não se pode estereotipar as
mudanças e acontecimentos ocorridos, de tal forma que leve o leitor a pensar
que foram mudanças efetuadas em todo o continente. O século XI, por exemplo,
foi de grande importância para a África do Oeste, pois marcou a radiação do
sunismo maliquita, e a mudança de relação entre os muçulmanos e não muçulmanos.
Durante esses cinco séculos ocorreu uma série de evoluções comparáveis no
conjunto do continente, a distribuição geográfica da África tomou forma e se
estabilizou, e a economia amadureceu, é possível então considerar que durante
esse período ocorreu uma “germinação” que explica a “florescência” posterior na
África.
As primeiras mudanças consideráveis começam no
século VII, como a organização de espaços de sedentarização, quando o homem
deixa de ser nômade e torna a produção agrícola dominante. O surgimento das
tecnologias também foi um marco muito importante, pois iniciou a exploração dos
recursos, o aumento das trocas e principalmente a divisão do trabalho.
Esse processo de sedentarização resultou de um
novo tipo de relação com o meio em que esses povos viviam, motivada pelas
constantes mudanças climáticas, aumento populacional, e desorganização das
sociedades que estavam se tornando complexas. Essa sedentariedade provocou um
crescimento demográfico, tornando mais necessário o uso da agricultura.
Tal progresso, que corresponde a
um aumento da quantidade de trabalho necessário para a produção de alimentos,
constitui a melhor estratégia de sobrevivência inventada pelos grupos humanos,
tanto na África quanto em outros continentes [...]. (DEVISSE; VANSINA. 2010,
p.883)
Nas
florestas da África central foi desenvolvida uma técnica agrícola baseada em um
campo arroteado por ano. Nas savanas, ao sul da floresta, a técnica de baseava
em dois campos arroteados por ano. Quem dominava era os cereais, logo após a
caça, e a colheita como atividade complementar. Já na África Oriental e do
Sudeste, e na parte sul da África Central, a produção de alimentos se baseava
na criação de gado, e na agricultura de cereais como o milhete e o sorgo. A
criação de gado por um lado, era maior nas regiões mais secas como em Botsuana.
Após o século VIII houve um desenvolvimento na criação de rebanhos, que se
tornou primordial.
Na África oriental houve uma expansão pastoril
que pode ser ligada à difusão das raças bovinas zebu e sanga, durante os
séculos estudados, que são raças que se adaptam mais facilmente ao clima
seco. Enquanto isso, na África Ocidental
ocorria transformações parecidas às que já foram mencionadas. Nas florestas do
Benin, na Nigéria, houve um avanço significativo da agricultura. Nas partes
mais secas da Savana e no Sahel, as mudanças climáticas provocaram o êxodo dos
povos em busca de lugares onde houvesse condições necessárias para a
agricultura. Uma mudança transtornadora aconteceu no Neolítico, a pesca, que
era a principal base da alimentação desses povos, desapareceu. Apenas a caça
não era suficiente para manter a população que estava ficando cada dia maior,
então as importações tornaram-se necessárias. A instalação dos agricultores nas
terras mais úmidas, com os arroteamentos, foi o fator que mais provocou a
destruição do meio ambiente.
Durante esses séculos, certamente
existiu um crescimento demográfico natural. Embora tenha sido muito lento e
saibamos pouco a esse respeito, não podemos negligenciá-lo. Foi acompanhado por
uma crescente degradação, em várias regiões, das relações com o meio ambiente.
(DEVISSE; VANSINA. 2010, p.891)
O Saara havia, dois ou três milênios
antes, sido abandonado pelos homens pois os recursos para sobrevivência eram
insuficientes, então, com a introdução do camelo nessas regiões, houve uma
revolução nos transportes e na alimentação. Com essa implantação, o Saara
passou a ser reabitado, e os Oásis não eram mais os únicos lugares de ocupação.
Na África do Norte, durante o período
enfocado surgiu profundas crises alimentícias. No Egito, por exemplo, alimentar
a população tornou-se uma preocupação do Estado, tornando necessária uma nova
política de produção.
Essa mudança na produção alimentícia
causou algumas mudanças sociais. Os principais processos de integração entre as
sociedades tiveram início durante esse período. Desencadeou-se um processo de
etnogenia, antigos grupos por outros novos, e integração linguística.
3
SURGIMENTO DAS TECNOLOGIAS
As sociedades africanas desenvolveram
tecnologias, tanto para a produção alimentícia, como para a melhoria das
moradias. A técnica das abóbadas núbias foi retomada na cobertura de igrejas
cristãs da Núbia. Essa técnica arquitetônica ancestral é proveniente do Alto
Nilo, e chama a atenção pelo formato de arco.
As pesquisas arqueológicas das moradias
deram acesso direto às técnicas desenvolvidas durante esse intervalo de tempo,
bem como a cerâmica, os metais, a tecelagem e o manuseio do sal.
O uso da cerâmica era muito ligado as
sociedades em processo de sedentarização. A produção de cerâmica se tornou um
indicador demográfico, econômico e cultural.
Tratada como marca da variação
dos detalhes das técnicas (preparação das massas, cozimento, procedimentos de
impermeabilização), como indício das variações de gosto, mas também como
indicador dos objetos disponíveis para o enfeite no meio cotidiano dos
produtores, como bom indicador de riqueza [...]. (DEVISSE; VANSINA. 2010, p.
896)
A cerâmica desenvolvida durante esse
período foi essencial para o trabalho dos arqueólogos, de acordo com a posição
e organização dos objetos nas casas, é possível saber o “status social” dos
moradores. A cerâmica de Ruanda, data entre os séculos VIII e IX, marcou o
abandono da concentração das fundições de ferro e causou uma transformação
profunda com a instalação de pastores especializados na sociedade.
Durante
algum tempo, as informações que se tinha sobre a produção dos metais eram muito
fragmentadas, pois os metais eram sempre acompanhados de lendas e de certa
magia, como é o caso do ouro africano. Após a implantação dos estados
muçulmanos, um dos primeiros povos a fazer uso desse ouro foram os Aglábidas, o
que fez a demanda crescer, e o número de exportações aumentarem, salientando
que isto ocorreu durante o período aqui enfocado. O cobre era um metal muito
apreciado nessa época, inclusive no sul do Saara ele concorria com o ouro como
matéria prima de objetos de luxo. As técnicas de extração utilizadas eram a
escavação de poços e as galerias horizontais. O cobre chegou a ser usado como
moeda na África Central em 900.
Com o ferro não era muito diferente, ele
tinha grande valor. O ferro era a matéria-prima de ferramentas como machados,
enxadas de trabalho; de armas como sabres, lanças, armação de flechas, pontas
de arpão e facas; de utensílios como tesouras e agulhas, e também para a
produção de objetos de adorno como colares, anéis e braceletes. O ferro era tão
apreciado, que através de pesquisas arqueológicas descobriu-se que havia uma
busca por sua acumulação, pois muitas barras de ferro foram encontradas.
No caso da tecelagem, houve uma
irradiação em particular entre os séculos trabalhados. A tecelagem e a venda de
tecidos alcançaram uma grande importância econômica.
Ela gerava produções secundárias
como a cultura do índigo. [...] produção que fornecia não somente e muito
rapidamente os novos elementos da vestimenta, mas também logo criaria signos de
distinção social, bem como valores de troca e de entesouramento. (DEVISSE;
VANSINA. 2010, p.906)
Na África Central o tecido de ráfia foi
o mais importante. Na zona florestal se desenvolveu a produção de tecido de
casca de árvore tratada por percussão, e na
savana o couro era a matéria-prima dominante nas vestimentas.
Entre todas as técnicas desenvolvidas
durante os séculos VII e XI, o sal é o que mais se destaca. Ele era obtido a
partir das salinas sahelianas, etíopes e orientais. Era obtido também através
da evaporação do mar, por colheitas de eflorescências, e de uma forma que chama
bastante atenção, por procedimentos sofisticados usando as cinzas de plantas
xerófilas para extrair o sal. Em algumas áreas onde não havia o sal-gema e o
sal marinho, eles cultivavam as plantas produtoras de sal. Esse sal era a fonte
de renda dos ribeirinhos que o trocavam por todos os produtos que
necessitassem.
No decorrer desses séculos
estudados, houve um considerável desenvolvimento no comércio, principalmente no
transaariano. A introdução do camelo nos comércios de longa distância no
deserto foi indispensável para a obtenção de lucro. Porém tanto ao norte quanto
ao sul do deserto, a expansão do comércio transaariano teve conseqüências:
[...] em primeiro lugar o desabrochar
das entidades estatais, do Marrocos ao Egito, entre os séculos VII e XI. [...]
Em seguida, é claro, o comércio provocou o desenvolvimento de grupos de
mercadores mais ou menos fortemente estruturados e mais ou menos dependentes de
poderes políticos. (DEVISSE; VANSINA. 2010, p.911)
4
CONCLUSÃO
Após a análise feita das grandes
mudanças, progressos e desenvolvimentos ocorridos durante o período que se
estende do século VII ao XI, a conclusão a que se chega é que esses séculos
realmente podem ser considerados formadores, pois as mudanças ocorridas entre
eles afetaram a África em seus aspectos sociais, políticos, econômicos e
culturais. É o período onde o povo deixa de ser nômade e tem um novo contato
com o meio, iniciando o processo de sedentarização e tornando a agricultura e o
comércio necessários como meio de sobrevivência.
REFERÊNCIAS
DEVISSE, Jean; VANSINA, Jan. A África do século VII ao XI: cinco séculos
formadores. In: MOHAMMED, El fasi. (Org.). História geral da África III:
África do século VII ao XI. Brasília: UNESCO, 2010. p.881-920.
LOPES, Edite. África durante os séculos VII e XI. UNEB. Bahia,
2012. Disponível em: <http://historiadaafricauneb.blogspot.com.br>.
Acesso em 13 jul. 2014
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Sara S.
de Oliveira
Acadêmica
de História
Paraíba,
Brasil