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sábado, 20 de agosto de 2016

Novas perspectivas para a história indígena



ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Identidades étnicas e culturais: novas perspectivas para a história indígena. IN: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. (Orgs.).  Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da palavra, 2003. 


         A autora apresenta a antiga e nova imagem do índio na historiografia brasileira. Ela mostra que ainda no século XIX, Varnhagen se referia aos índios como “povos na infância”, personagens secundários, que só surgiam na historiografia em função dos interesses alheios. O índio era visto como uma massa amorfa que não reagia e nem resistia aos colonos. Ainda com base nesse ideal, acreditava-se que os índios do Brasil foram absorvidos pelo sistema colonial como vítimas indefesas, aculturaram-se, deixaram de ser índios e saíram da História!
        Porém, Maria Regina nos traz novas perspectivas para a história do índio brasileiro. Diferente do que se pensa os índios não permitiram tal aculturação, ao contrário eles reformularam suas culturas, mitos e compreensões do mundo com base na nova realidade que lhes foi apresentada. Exemplo disso são os documentos sobre as aldeias coloniais do Rio de Janeiro que nos mostram que os índios integrados à colônia se misturaram e se transformaram, porém continuaram a se considerar e serem considerados índios. Além disso, nessa nova perspectiva da história indígena, as aldeias ganham um novo papel, agora passam a ser vistas como um espaço de ressocialização. Apesar da opressão que sofriam nesses ambientes, os índios foram capazes de se rearticular social e culturalmente assumindo a nova identidade que lhes havia sido dada ou imposta pelos colonizadores: a de índios aldeados e cristãos.
        Nesse novo olhar, as aldeias deixam de significar apenas perdas e prejuízos, podendo serem vistas também como um espaço de sobrevivência cultural, dessa forma passam a caminhar juntos, pois ao passo que se acreditava que os índios estavam sendo aculturados na verdade eles estavam praticando uma forma de resistência.
       A autora procura também desfazer os falsos estereótipos criados sobre a imagem do índio. Ela explica que eles não estavam à disposição dos colonizadores, nem eram ingênuos ou tolos, ao contrário eles buscavam seus próprios ganhos, e se fosse preciso “mudavam de lado” quantas vezes fosse necessário, a exemplo disso temos a Revolta dos Tupiniquins.
      Colaborar com os europeus e se aldear podia significar uma forma de resistência adaptativa. E pra conseguir o que queriam assumiram inclusive a identidade de súditos do Reino, como a própria autora exemplifica. Eles pediam mercês e privilégios e faziam isso dentro das normas estabelecidas.
     A autora destaca ainda que, atualmente, o conceito de etnia é visto no âmbito político e histórico, e não mais cultural e consangüíneo. Os índios brasileiros tinham os dois elementos destacados por Weber como essenciais para a formação do sentimento de comunhão étnica: ação política comum e o sentimento de comunidade, pois com a chegada dos europeus, os diferentes grupos de índios se tornaram apenas “índios”, compartilhando a condição comum de serem nativos da América. Enfim, na aldeia construiu-se novos hábitos e costumes, e a língua inserida pelos jesuítas facilitou a comunicação entre os diferentes tipos de índios. É possível concluir então que os índios não se extinguiram, e sim deram um novo significado à identidade genérica que lhes foi conferida.


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Sara S. de Oliveira
Acadêmica de História
Paraíba, Brasil


Um comentário:

  1. É interessante ver que está sendo descoberta uma nova visão do índio, não mais como um elemento passivo esquecido na história brasileira, mas como ativo, com suas atitudes que fizeram diferença nos eventos e na história.

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