ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Identidades étnicas e culturais: novas perspectivas para a história indígena. IN: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. (Orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da palavra, 2003.
A
autora apresenta a antiga e nova imagem do índio na historiografia brasileira.
Ela mostra que ainda no século XIX, Varnhagen se referia aos índios como “povos
na infância”, personagens secundários, que só surgiam na historiografia em
função dos interesses alheios. O índio era visto como uma massa amorfa que não
reagia e nem resistia aos colonos. Ainda com base nesse ideal, acreditava-se
que os índios do Brasil foram absorvidos pelo sistema colonial como vítimas
indefesas, aculturaram-se, deixaram de ser índios e saíram da História!
Porém, Maria Regina nos traz novas
perspectivas para a história do índio brasileiro. Diferente do que se pensa os
índios não permitiram tal aculturação, ao contrário eles reformularam suas
culturas, mitos e compreensões do mundo com base na nova realidade que lhes foi
apresentada. Exemplo disso são os documentos sobre as aldeias coloniais do Rio
de Janeiro que nos mostram que os índios integrados à colônia se misturaram e
se transformaram, porém continuaram a se considerar e serem considerados
índios. Além disso, nessa nova perspectiva da história indígena, as aldeias
ganham um novo papel, agora passam a ser vistas como um espaço de
ressocialização. Apesar da opressão que sofriam nesses ambientes, os índios
foram capazes de se rearticular social e culturalmente assumindo a nova
identidade que lhes havia sido dada ou imposta pelos colonizadores: a de índios
aldeados e cristãos.
Nesse novo olhar, as aldeias deixam de
significar apenas perdas e prejuízos, podendo serem vistas também como um
espaço de sobrevivência cultural, dessa forma passam a caminhar juntos, pois ao
passo que se acreditava que os índios estavam sendo aculturados na verdade eles
estavam praticando uma forma de resistência.
A autora procura também desfazer os
falsos estereótipos criados sobre a imagem do índio. Ela explica que eles não
estavam à disposição dos colonizadores, nem eram ingênuos ou tolos, ao
contrário eles buscavam seus próprios ganhos, e se fosse preciso “mudavam de
lado” quantas vezes fosse necessário, a exemplo disso temos a Revolta dos
Tupiniquins.
Colaborar com os europeus e se aldear
podia significar uma forma de resistência adaptativa. E pra conseguir o que
queriam assumiram inclusive a identidade de súditos do Reino, como a própria
autora exemplifica. Eles pediam mercês e privilégios e faziam isso dentro das
normas estabelecidas.
A autora destaca ainda que, atualmente, o
conceito de etnia é visto no âmbito político e histórico, e não mais cultural e
consangüíneo. Os índios brasileiros tinham os dois elementos destacados por
Weber como essenciais para a formação do sentimento de comunhão étnica: ação
política comum e o sentimento de comunidade, pois com a chegada dos europeus,
os diferentes grupos de índios se tornaram apenas “índios”, compartilhando a
condição comum de serem nativos da América. Enfim, na aldeia construiu-se novos
hábitos e costumes, e a língua inserida pelos jesuítas facilitou a comunicação
entre os diferentes tipos de índios. É possível concluir então que os índios não
se extinguiram, e sim deram um novo significado à identidade genérica que lhes
foi conferida.
___________________
Sara S. de Oliveira
Acadêmica de História
Paraíba, Brasil
É interessante ver que está sendo descoberta uma nova visão do índio, não mais como um elemento passivo esquecido na história brasileira, mas como ativo, com suas atitudes que fizeram diferença nos eventos e na história.
ResponderExcluir