RESUMO
A
pobreza da América Latina e a riqueza da América do Norte são muitas vezes
explicadas a partir de teorias simplistas e irreflexivas. Cria-se a imagem de
uma América Dominante, e outra que foi dominada ao longo do tempo, sem a
oportunidade de se desenvolver economicamente.Além disso, muitas vezes a culpa
pela pobreza latino-americana é atribuída a potências econômicas, como por
exemplo, os Estados Unidos. Porém, novas análises têm surgido, como a do
Professor Paulo Roberto de Almeida, que com base em estudos mais aprofundados,refuta
algumas explicações óbvias, procurandoevidenciar os reais motivos do
subdesenvolvimento dos países da América Latina. Esse artigo propõe situar os
principais motivos destacados pelo Professor Paulo Roberto de Almeida, no
âmbito político, econômico e social, bem como apresentar algumas das principais
teorias desenvolvidas por estudiosos ao longo do tempo, no que diz respeito à
pobreza latino-americana.
Palavras-Chave: América Latina – América do Norte – Antagonismo
Econômico
Esse é um trabalho sobre a abordagem do Professor Paulo
Roberto de Almeida, baseado em sua vídeo-aula e artigo intitulados “Porque a
América Latina é pobre e a América do Norte é rica? ”, onde ele apresenta
motivos de âmbito político, econômico e social, e refuta algumas colocações já
conhecidas que diziam explicar a pobreza latino-americana, e a riqueza
norte-americana.
No mundo acadêmico as explicações mais difundidas são as
mais simplistas e superficiais, como por exemplo, a de Colônias de Exploração e
Colônias de povoamento. Segundo essa teoria, algumas colônias serviram apenas
como áreas para enriquecer a metrópole, ou seja, eram apenas de exploração. Já
nas colônias de povoamento, o objetivo não seria tão somente enriquecer, mas
também habitar e povoar a nova terra, o que levaria a um desenvolvimento da
colônia. Seguindo o mesmo raciocínio, as colônias ibéricas seriam as de
exploração, isto é, países como Peru, Brasil e México seriam subdesenvolvidos
porque seus colonos só tinham a intenção de explorá-los enquanto colônia. Já as
colônias anglo-saxônicas seriam as de povoamento, o que explicaria o grande
desenvolvimento de países como os Estados Unidos e Canadá (KARNAL, 2013, p.
13).
Essa sem dúvidas é uma teoria irrefletida, que resume
consequências causadas por escolhas e posicionamentos de uma certa região ao
longo da história, à uma atitude colonizadora. E não para por aí. Há uma outra ideia
associada a esta que julga a “pobreza” de certas regiões com base na qualidade
dos colonos. Vejamos:
Para as colônias de
exploração as metrópoles enviariam o “refugo”: aventureiros sem valor que
chegariam aqui com olhos fixos na cobiça e no desejo de ascensão. As colônias
de povoamento receberiam o que houvesse de melhor nas metrópoles, gente de
valor que, perseguida na Europa, viria resignada com seus bens e cultura para o
Novo Mundo (KARNAL, 2013, p.14).
Ou seja, essa é uma colocação
totalmente pretensiosa, que explica a atual condição de um país a partir de
características do colonizador como ambição, riqueza, cultura, e até mesmo
raça, pois alguns consideram que os ingleses seriam uma raça mais desenvolvida.
Em suma, a explicação se resume na seguinte frase: “Somos pobres porque fomos
explorados por uma gentalha medonha! Os Estados Unidos são ricos porque tiveram
o privilégio da colonização de alto nível da Inglaterra” (KARNAL, 2013, p.14).
Autores como Viana Moog e Richard Morse trouxeram novas
respostas se baseando em diferentes fatores do processo de construção histórica
dessas diferentes Américas como religião, cultura e geografia. Porém, não nos
prenderemos em analisar a visão dada por esses autores, pois como já foi antes
citado, o referencial teórico para a produção textual deste artigo baseia-se no
olhar fornecido por Almeida. Vejamos então, de forma detalhada, a resposta dada
pelo professor à pergunta que não quer calar: Porque a América Latina é pobre e
a América do Norte é rica?
2 DESENVOLVIMENTO
Como já se sabe, a comparação comum feita entre América
do Norte e América Latina é um tanto maniqueísta. Dá se a entender que ambas
estão em uma luta constante, onde de um lado do ringue temos “o terrível
império americano, conquistador e opressor de outros povos” e do outro lado “o
simpático e pobre cidadão latino-americano oprimido”.Para que não se caia nesse
conto reducionista, é preciso analisar o porquê de América Latina ter se atrasado
tanto no seu desenvolvimento.
2.1 Explicações para o atraso
econômico da América Latina
O estado natural da humanidade é um estado de baixo
crescimento e de pobreza, até porque o progresso não é algo inerente às
sociedades. A poucos séculos atrás o crescimento econômico se dava de forma
lenta. É com a Revolução Industrial, caracterizada pela série de invenções
ocorridas no século XVIII, que vai acontecer um aumento da produtividade. Pela
primeira vez foi possível proporcionar um crescimento autossustentado, que não
se esgotava com o aumento populacional (LANDES, 2003, p.207). Até o século
XVIII a desigualdade era entre a Europa Ocidental e o resto do mundo. Dessa
forma, o mundo dos últimos cinco séculos é o mundo criado pela Europa, que
dominou metade do mundo. Abaixo temos a famosa caricatura de James Gillray que
exemplifica bem este fato.
Século XVIII: O mundo sendo
dividido
por Inglaterra (Pitt) e França (Napoleão).
Posteriormente os Estados Unidos iniciam seu processo de
industrialização, e substituem o então Império Britânico no século XX, porém, é
importante destacar que a dominação americana não é a mesma dominação britânica
do século XIX, as teorias conspiratórias são, sem dúvidas, exageradas. A
maioria dos intelectuais latino-americanos veem os Estados Unidos como
explorador, porém o número de “oprimidos” e desempregados- de toda a parte do
mundo- que querem ir para os Estados Unidos só aumenta. E nesse quesito, “o
Brasil se tornou de importador de mão-de-obra, um exportador de sua própria
força de trabalho, inclusive a mais especializada”(ALMEIDA, 2015, Vídeo-Aula).
O Império Americano teve início, segundo alguns
historiadores, em 1898 com a guerra Hispano-americana, quando os Estados Unidos
derrotam a Espanha, e tomam o Porto Rico e as Filipinas. Já no períodoapós a
Segunda Guerra Mundial, eles ascendem,aproveitando-se do fato que a Europa e a
Ásia estavam destruídas pela guerra, e se tornam a grande potência econômica. Atualmente
o Império Americano pode ser considerado decadente, pois não exerce tanto poder
quanto antes.
Ao invés de se atribuir a culpa pela pobreza da América
Latina aos Estados Unidos e outras potências, deve se levar em conta que o
Império Americano é recente, e que enquanto o mesmo se industrializava, a
América latina e outras regiões periféricas passam a se especializar na
exportação de produtos primários.Isto é, o atraso da América Latina para aderir
as novas tecnologias proporcionadas pela Revolução Industrial, levou países que
apresentavam condições favoráveis para a plantação e transformação do algodão a
se tornarem importadores de tecidos de algodão.
Ou seja, tanto o
Brasil quanto o Egito e a Índia eram grandes produtores e exportadores de
algodão. Mas no cômputo final entre exportações do produto cru, ou seja,
algodão não processado, e exportações e importações totais de produtos de
algodão, isto é, fios, telas e roupas, o saldo era nitidamente desfavorável
para países [como China, Índia, Argentina, Egito e Brasil]. (ALMEIDA,2015, p.5)
Além disso, o que incitou esse grande atraso econômico e
industrial foi a “especialização”, ou seja, os países latino-americanos se
concentravam na produção e exportação de poucos produtos primários.
Outro motivo que provocou o atraso da economia
latino-americana foi o protecionismo adotado por alguns países na tentativa de
promover suas indústrias. Apesar de os Estados Unidos, que hoje é um país
avançado, ter adotado políticas protecionistas, não é de se comparar com a
América-Latina. Melhor dizendo, durante toda a fase de industrialização no
século XIX, os países da América Latina aumentaram as tarifas na importação de
produtos manufaturados, além de proibir a importação de produtos com similar
nacional. Nesse contexto, o Brasil era o país de mais alta proteção tarifária
do mundo. A tabela abaixo, utilizada pelo Professor Paulo Roberto (2015, p.7),
demonstra bem esses resultados:
Tarifas médias ad valorem aplicadas aprodutos manufaturados, 1913
|
|||
Tarifas protecionistas
|
Tarifas
“normais”
|
||
Brasil
|
50-70
|
França; Suécia
|
20
|
Colômbia
|
50-60
|
Nova Zelândia
|
15-20
|
México
|
40-50
|
Itália
|
18
|
EUA
|
44
|
Áustria-Hungria
|
18
|
Espanha
|
41
|
Austrália
|
16
|
Japão
|
25-30
|
Dinamarca
|
14
|
Argentina
|
28
|
Alemanha
|
13
|
Canadá
|
26
|
Grã-Bretanha
|
0
|
Fonte: Liga das
Nações, 1927: 15
|
Quando utilizado de forma exagerada, o protecionismo
industrial torna o mercado interno totalmente dependente da produção nacional,
que termina estacando por não precisar competir com os mercados internacionais.
Dessa forma, dificilmente um país que adota uma política protecionista vai se
adequar aos graus de avanço tecnológico na qual estão expostos aqueles que se
inserem no mercado internacional.
2.2 Diferenças básicas entre países
latino-americanos e países avançados
Em sua análise Almeida evidencia também os fatores
culturais como pontes relevantes nesse antagonismo. Se tratando de educação, os
dados quantitativos revelam que os países latino-americanos chegaram mais de um
século depois às taxas de matrícula dos líderes em educação, isso apenas em
números, sem levar em consideração a qualidade do ensino. Além desse fator,
existe também a baixa qualificação da mão-de-obra dos países latino-americanos
com respeito aos Estados Unidos e aos demais países avançados.
Porém, vale ressaltar que nem sempre a América Latina
teve descrédito quanto ao progresso de sua economia. Em 1960, um estudioso de
processos de desenvolvimento econômico chamado Gunnar Myrdal afirmou que a Ásia
continuaria sendo sinônimo de miséria insuperável durante muito tempo, enquanto
que os países da América Latina, caso adotassem as políticas socialistas usadas
pela Índia, se tornariam países desenvolvidos. Mas, como podemos notar, o que
aconteceu foi exatamente o oposto. Nos últimos 40 anos a Índia e a América
Latina estagnaram, ao passo que a Ásia se desenvolveu economicamente a partir
da inserção na economia mundial, “baseada no setor privado e nos investimentos
estrangeiros, em substituição à proteção nacional e o controle do Estado”
(ALMEIDA, 2015, p.11). Inclusive, a Índia só conseguiu maior crescimento quando
adotou essa política asiática.
Ao ressaltar esses fatos, já podemos notar o quanto a
explicação de “exploração imperialista” é simplista. Isso não quer dizer que
não haja realmente uma exploração, mas sim que não se deve reduzir o motivo da
pobreza e atraso da América Latina ao Império Americano. Segundo Paulo Roberto de
Almeida, desde o século XIX que a América Latina vem fazendo “tudo errado”. A
baixa qualificação da mão-de-obra, o pouco investimento em educação e os
excessivos endividamentos externos, são fatores que devem ser levados em conta
ao se tratar do atual antagonismo econômico existente entre América Latina e
América do Norte.
Além desses três pontos enfatizados acima, outra atitude
considerada inapropriada para a América Latina foi na esfera da Política
Fiscal, pois foi emitido muito dinheiro, e gastou-se além do que se arrecadava.
A questão da corrupção política também não deve ser passada em branco, além do
fato de o Brasil ter sido industrializado com base no modelo cepalino de Raúl
Prebisch. A Ásia se diferenciou então por ter buscado “no comércio exterior e
na busca de tecnologias estrangeiras, abrindo-se ou associando-se a empresas
multinacionais [...] o resultado foi o crescimento contínuo [...]” (ALMEIDA,
2015, p.11).
A liderança política da América Latina também se
diferencia das lideranças de países mais avançados, pois ela busca sempre a
“igualdade” e a “justiça social”, enquanto que os países avançados se
desenvolveram não com “esmolas”, mas sim por terem se integrado à economia
mundial.Apesar de a América Latina ter obtido alguns progressos como a
diminuição da pobreza e das desigualdades, é preciso deixar claro que isso foi
conquistado à base de altos imposto sobre a população mais pobre.
A comparação com os países asiáticos se insere aqui
exatamente para não surja o argumento de que não se pode comparar a América
Latina com a América do Norte pois ambas possuem diferentes processos
históricos de colonização, independência e industrialização. Os países
asiáticos, assim como os latino-americanos, foram afetados pelas crises
financeiras internacionais, o que acontece com a América Latina é que ela, de
fato, não teve um projeto efetivo de desenvolvimento, “durante a maior parte da
história contemporânea foi estatista, protecionista e dirigista” (ALMEIDA,
2015, p.15).
3. CONCLUSÃO
Enfim, a América Latina até que poderia ter conquistado
melhores taxas desenvolvimento econômico e social, caso tivesse estabelecido um
conjunto de políticas e instituições voltadas para o crescimento, mas o que ela
fez foi se perder na instabilidade econômica e social. Atitude essa que
despertou golpes de Estado, revoluções e até mesmo guerras civis.
O que aconteceu com os países latino-americanos, foi que
eles “estacionaram” diante do mundo em desenvolvimento.Um capitalismo para ser
bem organizado depende de uma boa liderança, e isso tem variado muito nos
diferentes países da América Latina, pois temos tanto países que procuram se
inserir no mercado internacional, como é o caso do Chile, como também temos
outros que são saudosistas, ou seja, procuram conter esse processo, nesse
modelo de liderança se encaixa muito bem o Brasil e a Argentina. Ainda temos os
países “esquizofrênicos”, como a Venezuela e Cuba, que são aqueles que
“pretendem fazer girar para trás a roda da história, como se fosse realmente
possível impedir processos econômicos se continuar avançando” (ALMEIDA, 2015,
p.18).
Como foi dito inicialmente, o objetivo deste artigo foi
desconstruir, segundo a análise do Professor Paulo Roberto de Almeida, alguns
estereótipos maniqueístas relacionados aos países norte-americanos, e
apresentar possíveis causas para a pobreza da América Latina. Não se pode
analisar de forma odiosa países como os Estados Unidos pelo simples fato de
eles terem conseguido desenvolver políticas de desenvolvimento e nós não.
Deve-se reconhecer, que “tanto em seus êxitos quanto em seus fracassos e
incertezas, a experiência norte-americana interessa à humanidade inteira (...)
é a garantia de liberdade para numerosos países” (REMOND,1989, p.125).
Após essa análise, podemos
concluir que a América Latina se confundiu e ficou para trás por conta própria,
independentemente das crises financeiras ou da “exploração imperialista”
americana. E como ousadamente já afirmou Leandro Karnal em seu livro (2013, p.9):
Quem
está por cima desperta críticas que mostram tanto os pontos que consideramos
negativos dos vitoriosos, como o que gostaríamos de ter e não temos. As
críticas, às vezes, são uma das maneiras transformadas da inveja.
ANTAGONISM ECONOMIC OF THE AMERICAS: WHAT CAUSED?
ABSTRACT
Poverty in Latin
America and the wealth of North America are Often Explained from simplistic
theories and unthinking. It creates an image of a Dominant America, and another
what was dominated over time, without the chance to develop economically. In
addition, Often to blame for Latin American poverty is attributed to economic
powers, such as the United States. However, new Analyzes have emerged, such as
teacher Paulo Roberto de Almeida that based on further studies, refutes some
obvious explanations, looking for evidence the real Reasons for the
underdevelopment of Latin America. This article Proposes to place the main
Reasons highlighted by teacher Paulo Roberto de Almeida, in the political ,
economic and social , as well as presenting some of the main theories developed
by scholars over time , with regard to Latin American poverty .
Keywords: Latin America - North America -
Economic Antagonism
REFERÊNCIAS
ALMEIDA,
Paulo Roberto. Por que a América Latina
é pobre e a América do Norte é rica?. Hartford, 2015.
ALMEIDA,
Paulo Roberto. Vídeo-Aula:Por que a
América Latina é pobre e a América do Norte é rica?. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DFzchiyyMm8>.
Acesso em: 04 jun. 2015.
KARNAL,
Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. IN: ___. As comparações incômodas.São Paulo: Contexto, 2013. p.13-18.
LANDES,
David. Riqueza e pobreza das Nações: por que algumas são tão ricas e outras são
tão pobres. IN: ___. A natureza da
revolução industrial.Campus,2003. p.206-221.
REMOND, René.
História dos Estados Unidos. São
Paulo: Martins Fontes, 1989.
___________________
Sara S. de Oliveira
Acadêmica de História
Paraíba, Brasil